Thursday, October 16, 2008

luzes e cores

em tempos de libertinagem, exaustão e falta de concentração
me pararam e chamaram atenção:
fui caminhando em direção a uma música inquietante
vibrante, que ecoava por todos os lados
em todas as cores; estonteantes.



dancei,transpirei e senti a melodia
como nunca tinha sentido,como nunca havia escutado.


Senti as cores que encontraram meus olhos, e no passo seguinte,
elas dançavam comigo, lindas e brilhantes.
No compasso de palmas, em passinhos curtos, nas pernas longas, achando as notas que pulavam em sincronia, eu rodopiei.

na contagem, eu olhei pra cima e vi o globo de espelhos cintilando
centelhando tudo ao redor com estrelas ilusórias, iluminando os corpos amigos
as minhas vitrines e a minha dança

Dançavam comigo os que eu amo, todos de botas vermelhas e calças justas
escutando um Jive misturado no Jazz, uma música dos O'Jays que nunca acaba
nos acabou, não deixou a energia que circulava se espalhar
Não erramos o passo, ficou tudo muito bonito

Saltamos e corremos, damos as mãos e soltamos
giramos outra vez e paramos, coreografamos as mãos e batemos palma outra vez
e continuamos, escutando a melhor música
na melhor época de nossas vidas
sentindo nossos corpos
numa febre cromática
de ritmo, alegria, suor
no que acredtimos:

acima de tudo
na música e na dança

Saturday, October 11, 2008

botas de couro: a melhor coisa do mundo.


tem gente que desconversa sobre sentimento mente, se atravessa
desconhece tudo que vem do coração
e se esconde, desfalece, não conjuga os verbos afetivos...

esse não é o nosso caso.

no acaso de meses intermináveis, memoráveis
nos alimentamos de abraços, de gestos largos
de palavras curtas e pesadas
de lágrimas e palpitações que vinham de dentro

remediamos nossas almas, recortamos os pedaços vazios
jogamos fora
demos espaço as brincadeiras, e a todo o resto que a alegria conhece
sorriso, risos, gargalhadas e abraços

respiramos a dança e a música, de forma unitária

eu e minha amiga sonhamos
e visionamos nosso futuro próspero
(sim, ele será próspero)
nós demos uma chance pra o que nos fortalece
e entregamos nossas fichas ao amor
o mais bendito amor, que não dita nem modula
apenas nos deixa sentir
eu e minha amiga cantamos abraçados
nós dançamos juntos,
agora sempre juntos continuaremos
ascendendo velas

o melhor a coisa do mundo
e que eu jamais ousaria sentir
é a leveza que um par de botas de couro;
um cabelo bem armado
um sorriso emoldurado de vermelho e o abraço mais sincero
poderiam me proporcionar

grato apenas pelo amor que me é dado de volta
o resto a gente ainda vai viver
e marcaremos nossas datas com corações alados
e nos daremos milhões de beijinhos pra lembrarmos que o amor fraternal
pode ser eterno

nós dois, cheios de simbolismos
pra representar nada além de sentimento
e a nossa amizade
que é a melhor coisa do mundo.


Tuesday, October 07, 2008

coisas mortas

Aconselho um dia, a quem quiser ser bem aventurado e enterrar uma porção de pecados de uma vez por todas, a ajeitar o seu quarto.
Desde ontem fui arrumando e abrindo gavetas, portas, diários, pastas e outros compartimentos. É incrível como o valor das coisas que encontramos, e que um dia julgamos ser eternas e dignas de significado, podem se tornar inevitavelmente...perecíveis.
Não lhes digo isso em tom de amargura, até mesmo porque sou o maior saudosista que vocês um dia irão conhecer. Lhes dou esse conselho desumano pelo simples fato de que não estou curado das minhas neuroses humanas, e precisava encontrar um ritual que me impedisse de acordar meus anseios animalescos.

Documentos, livros e recados, fotos e retratos, ficheiros, laços, caixas decoradas, jornais recortados, brinquedos quebrados,cartas, declarações, artigos, vidros de perfumes importados, de canetas a lápis de cor, tudo, passível de recordação.
Recordações essas cheias de um peso emocional (as vezes gratuito) e que talvez nem encontrem espaço na memória... Mas se foram guardados, tiveram sim, significância aparente alguns anos atrás...

Acredito que se for feito de forma lenta, como eu o fiz, você vai demorar umas boas horas para fugir do desespero que é ter de lembrar toda a sua infância conturbada,e se essa tiver sido bem aproveitada, gaste tempo então para sorrir com as boas imagens que uma simples almofada de elefantes pode lhe proporcionar...

Depois de separar o que eu julguei ter guardado precocimente junto com os sentimentos rasos, me dediquei a tudo que me deram de bom grado, e aos presentes bem pequenos, que estavam todos numa gaveta maior...

Meu erro foi a falta de cuidado. Quando chegar ao ponto dos presentes, não tente fugir, tirpudiar ou desmerecer o que a falta de idade um dia escreveu de forma tão espôntanea; releia todas as cartas (especialmente as de amor, mesmo que as cause uma dor fininha no peito)e tente olhar quem está nas fotos antigas, e se possível, ligue pras pessoas que apareceram nelas (não se engane, a saudade dessas pessoas amigas vai ser a maior que você vai sentir durante todo o procedimento)...

Eu me dei o direito de preparar um leite para me acalmar, e me acompanhar numa tarefa não muito mais importante da limpeza: jogar as roupas velhas fora. Não só as roupas velhas, mas tudo que restou de uma vida guardada, lacrada nas gavetas, escritas nos diários e pintadas nas paredes. Jogue fora não o que lhe traz tristeza, mas tudo o que não lhe traz nada...

Eu não choraria se fosse você quando terminar de limpar o seu quarto, acredite, meus olhos ainda estão roxos e cheios olheiras. Chore só o necessário, o que a saudade lhe trouxe de volta,


Jogue fora apenas as coisas mortas, porque existem muitas outras, dentro da gente e do nosso quarto, que viverão para sempre.

um sopro



tem dias em que a nossa cabeça só escuta uma música
que a tristeza do rio se levanta das águas
vem depressa com o vento
atravessa a cidade, corre pelas ruas
se aloja nos frágeis corações urbanos
e vem bater na minha janela, até entrar de vez...

eu desconfio, com muita certeza
que são nessas dias que os desesperados acordam mais cedo
ou talvez nem durmam

são nessas manhãs que a doença se instala
penetra pela a pele e sufoca
demora a sarar, e de noite dá risadas
ao lado dos padecidos de solidão

são nesses dias
que meu corpo infermo descansa
minha janela assobia como fantasma
minha cama descobre meus ferimentos
meus olhos se igualam aos rios;
longos, perenes e cheios de tristeza