Sunday, December 28, 2008

Lunar e muito doce



Descobriram os interesses
Por vezes deixaram o olhar fugir
Atingir a miopia cega, que não acerta
Infecta a mente
Que encantada, ficou dormente
Inconscientemente, em outro mundo...

Sumiram com o resto de tudo
A vergonha me deixou mudo, abobado
Tentado pela visão que vinha do outro lado
Perdido, desacretidado
E depois de questionar e ser questionado
Encontrou o olhar perdido
Partido de quem deveria estar ali
Os sons, os risos e tudo mais
Demais para o momento
Sumiram e me cativou apenas um sorriso
que sem tento, sempre esteve ali
O tempo todo, ali

Vinhos, cervejas e licores
Sabores misturados em todas as cores
Sentidos e frescores
Humores alterados, revirados
Tudo, num simples instante de encontro
Um confronto de idéias, perturbadas
Sofridas, pela vontade de permanência
E na eminência de uma despedida
Conseguiu me fazer feliz
Colocou um presente pra recordar
que guardei na gaveta



...


Compartilham
As mãos que ardem,
correm, escorrem
Viajam pela mente e pelo corpo
todo torto
Trincam-se os dentes
Morde-se a boca
Sente o calor, a ansiedade
A mortabilidade
do lado de fora
Esbafora, esbraveja
Contempla a beleza inevitável
Lamenta o que pericível
Como o próprio momento inegável
De alcance máximo do que é sensível
Tateia a pele
incendiada, contraída
Confessa com as palavras mau acabadas
Mas que precisam ser ditas
Sente um sopro, um suspiro
Agudo e retraído
Respira devagar
profundo
esperando o mundo acabar
Treme e revira as pernas
Músculos e braços
Voluntariamente entrelaçados
Força as mãos
E deixa os olhos responsáveis
pela parte ressentida
que não precisa ser vista

Depois que o vento levou a areia
Olhou para as estrelas
Fez pedido pra uma cadente
Arriscou em dizer que está contente
Por viver a lua e o desconcerto
com quem o mesmo sente
ao ver o céu coberto
limpo e aberto
para outras confissões


E ignorando os sentidos
O mar, a líbido,a consciência e outras emoções
Dorme quieto e sonha:
um sonho baixinho
pois o maior deles já esteve do seu lado
e teve a certeza de que sonhou mais alto aquela noite
quando estava acordado




Saturday, December 20, 2008

Aperto



E quando eu me sentei para balançar minhas pernas e as idéias sofridas
Bateram na minha soleira de veraneio.

Entraram os ventos vindos do sul, quentes e ligeiros
Vagaram pela casa, pelas cortinas, sorrateiros
Esquentaram a prataria, os vidros e as chaleiras
Vieram os faunos e as borboletas
Esquilos que pulavam nos livros em cima da mesa
Folhas do jardim que já estavam secas
Encheram minha casa de vida
Passaram pela cristaleira os raios do verão
Encontraram os corações e o velho castiçal
Todos de cristal

Com o vento veio o desconcerto
Mãos que o corpo tateiam
As mesmas que desejam e anseiam
Roçaram e se entregaram a paixão
Que passou por ambos pares de mãos
Até se consumir na tapeçaria
Onde encontrou o chão, duro e frio
Corpo já suado,
Confessando e trabalhando seus pecados
Consumidos também no assoalho
Que cobre toda minnha casa de madeira

A porta que ficou aberta deixou entrar a emoção
Desfaleceu a alma, contraiu minha visão
Revirou a cabeça e junto com a mobília
Que não encontrou mais lugar nenhum dentro da sala
Na mente viajaram as boas lembranças
Agora lotadas pelas passagens do outuno

Deixei entrar as traças e a poeira
De âmago ferido e dormente
Sol demais, mormaço e cegueira
Calor insuportável, lábio seco e carente
Claro demais e espalhado por todo canto
Um tanto de água da torneira aberta
que agora divide espaço com o tudo que veio de fora

Depois da invasão, percebi o amor próprio deitado
Ao meu lado, cruzando minhas pernas e amarrando meu coração
Veio a inveja, a amargura e a tristeza
De mãos dadas e amarradas
Sentaram a decepção e a incerteza
Deu pra ouvir a risada da alegria de contemplação
E tomei cuidado pra não ser tragado pela minha vertigem
Que teima e insiste em destruir minha poesia
quando a casa está abarrotada de simbolismo

Eu tentei fechar a porta da soleira
Mas meu corpo franzino não me ofereceu força
Dormi de porta aberta e coração na mão
Corpo ainda suado,excitado
Exercitado em trocas de carinho mútuo
Com um estranho adorável que também encontrou o meu sobrado



Dormi com a cabeça e as paredes reclamando
Minha casa lotada sem nem espedir convite
E as únicas que ficaram do lado de fora foram as minhas palavras
junto com a minha poesia
Que se alimentou de tudo que podia morar dentro da minha alma quando acordou no outro dia.

Tuesday, December 09, 2008

no pensamento, no peito.

uma cadeira em meio toda aquela areia.

Se via apenas uma mulher extremamente pálida,magra e morena, com olhos caídos e borrados. Seu cabelo crespo e volumoso era o único elemento de seu corpo que se movia, ainda assim, involuntariamente.
Um rosto sofrido, amargurado, cheio de marcas atravessadas.
Estava de frente a uma cadeira de madeira, como se fosse sentar a qualquer momento.
Inerte, frígida, sólida.
A cadeira e a mulher pareciam uma pedra de mármore em meio todo aquele deserto, que dançava e cortava as dunas que se moviam com o vento.

A mulher vestia branco;um vestido bordado em cetim, cravado com pérolas e rendas nas bordas.
Vestia luvas de renda branca, largas demais para seus dedos finos e enrrugados.
Na verdade, todo o vestido parecia largo demais para a mulher que tremia e sofejava, uma canção triste que só a cadeira, o vento e a areia poderiam escutar.

A mulher cantava no seu lugar, vendo o mar seco tomar conta dos seus pés até chegar aos tornozelos.
Seu vestido dançava com o resto do cénario, repousava na cadeira em tempos, e depois voltava a dançar...

A voz que ecoava baixinho no deserto não era tão alta assim, na verdade, se não fossem os ventos, talvez ela nem existisse.
A mulher escutava milhares de vozes; vozes pequenas, vozes de alarde, vozes de anúncio, vozes que não calavam, outras que gritavam, outras mais que cantavam mais alto que o vento.
Sua agonia transpareceu no rosto depois que caíram as lágrimas,molhou a seda e deixou o corpo da mulher mais fraco, a ponto de sentar...

Não o fez.
Depois de sentir a areia cobrir seus joelhos, a pequena senhora dobrou as mãos e pegou uma fita pressa a cintura, desamarrou e passou em volta dos cabelos, como tinha feito uma cohecida sua, que fora tragada pelo mar em tempos como aquele...

Prendeu a fita nos cabelos pretos,completamente sujos de infitos grãos, se tomou nos braços e sentiu o próprio abraço mais uma vez.
Pousou o pensamento no coração, nas cantigas de roda que a faziam girar quando estava triste, no momento que colocara o vestido branco pra valsar, na canção de ninar sem letra que ainda solvejava, mesmo escorrendo em lágrimas.
Padeceu no cansaço e na agonia, e com a areia já pelas coxas, voltou as mãos pelo corpo até se sentir plena, consciente daquilo que estava pra fazer...

Veio a redenção:
a moça de pele alva pouco se importou em sujar o vestido, já completamente imerso no deserto sem fim.
Rasgou-lhe o próprio peito, deixou entrar o vento, a canção e a areia. Saiu muito sangue, até mais do que a pobre moça esperava.
Saíram gritos desesperados, sofridos e extremamente doloridos, a cadeira tremeu em sua base.
Virou a face pra não deixar a areia lhe cortar com a ventania, depois, chorou até a sua alma pedir pra parar.

De peito aberto, sangrando, ela levou as mãos as coração, e velando a sua canção de ninar, tirou todas mas mazelas, as lembranças profundas, os amores dolidos, as chagas e as lamentações.
Guardou nas mãos tudo o que poderia ser retirado, jogou no deserto e enterrou até o limte que alcançavam seus braços. Puxou de volta os membros enterrados, seus pés estavam dormentes.
A mulher de fita na cabeça finalmente sentou na sua cadeira, costurou o peito com as sobras de um bordado branco, ficou lá até que a areia a cobrisse por completo, junto com sua cadeira.
A madeira já rangia com o uivo do deserto.

A moça que de tanto chorar perdeu o amor no peito, pensou que iria desenterrar tudo aquilo antes de morrer coberta, mas apenas antes de morrer, para não se dar o desprazer de reviver seus pesadelos.

Ainda sentada, ela continuava a cantar
A cadeira, o vento e a areia foram os últimos que a escutaram sua canção