Saturday, April 28, 2007

pronto, o ponto do egoísmo.

escrever das lamentações é chato, é rotineiro
me basta escrever que acabou a roda de samba
acabou a ladainha e o nhé-nhé-nhé
e se acabou a música, sem as conversas

mas é preciso lamentar,não as coisas que (me) acabaram
lamento do que não acabou, e do que continou
do que se juntou, de novo

e quando dizem, que " se não está bem, é porque ainda não acabou"
bom, que acabe, enquanto eu não tenho raiva
que acabe
e me acabe
enquanto eu guardo carinho
enquanto eu lamento
só lamento

se não tem o samba, não me interessa
é chato, como o lamento
lamento de lamentar
e de sofrer, jamais a pior das dores
sim a pior das tristezas

eu, no maior ponto de egoísmo
pela falta do altruísmo

Thursday, April 26, 2007

Maria

"Maria anda um pouco cansada. Havia andado toda aquela tarde pela praia,seus pés doendo, inchados,os olhos pesados e de boca seca. Maria senta, espera a noite sozinha. Está olhando para as estrelas, suja, deitada na areia esperando o mar lhe levar. O vestido de Maria está rasgado, seu cabelo crespo molhado, Maria está muito magra e sonolenta. Passa a mão sobre o rosto e sente escorrer, sente acidez. Maria morde a boca pra não sentir dor nem angústia. A bela se levanta, ascende uma fogueira no meio da praia, e espera o sol de outro dia nascer, inutilmente. O fogo não esquenta Maria, que entra num choro sozinha. Maria grita, não quer mais esperar, não quer nem fugir, não quer permanecer. Engole o choro, vai afogar as mágoas pra não sentir, pra anestesiar os sentidos, e pra quem sabe, descansar os pés machucados. Amarra os cabelos, deixa de roer as unhas e morder a boca, escreve na areia o que quis. Torcendo os pulsos, arrastando as pernas. Pensa rápido sobre tudo, na família, na mãe. Maria pensa nos amigos, na falta do passado, no cheiro da sua casa, na sua casa. Pensa no horizonte, e por fim, desiste de pensar. Maria entra no mar, a frescura da água é boa pra seus pés, que deixam de reclamar a dor. Ela sente o pesar, sente afundar. Ela sabe, que no final, sempre alguém deve morrer Por lá ficou, até deixar de existir. A Maria ficou com o mar, em forma de dor, e pra sempre. Foi embora, ficou a dor, pra sempre" ...

Tuesday, April 24, 2007

Voz inútil de Sereia

Se ao menos eu podesse,dizer o que eu quisesse
Se ao menos eu falasse tudo aquilo que parece
Eu guardaria o mundo, para poder lhe cantar
O que eu não permito mais me sufocar;
Se ao menos eu podesse assim lhe contar, de voz aberta e plana
Com gana pra chorar

Se ao menos eu podesse
Por assim lhe dizer
Se ao menos eu calasse o que eu não posso esconder
Te falo minha verdade;
Me guarda por favor
estendo minha mão aonde quer que for

Se ao menos eu podesse
em toda minha dor
dentro dessa canção
falar do meu ....

Wednesday, April 18, 2007

novo aquariano

...
um coração pode contar dos seus vícios de várias maneiras,mas disso já temos conhecimento...
eu não tinha, e tinha dificuldade para andar,pois sempre contei demais dos meus vícios, nunca os vivi de forma plena...
queria contar do céu mais azul, do ar mais abobado
de todas as estrelas em que eu andei
da minha precoce velhice e matutina, e da infantilidade nunca tardia que sempre acaba em música e dança
de um andar despreucupado, rolando pedras e conversas
e de coisas antigas que deveriam, mas ainda não perderam sua graça
das danças até o final do amor
de comer devagar pra não acabar rápido
de não ter vergonha dos corpos
e voltar aos corpos
as palavras
aos segredos
e aos desejos
ao suor
ao punho
ao toque
a fraqueza que não existe
como é bom saber que você já não vive mais em pele de Cabrito, mas que guarda uma jarra cheia de água do mar, pra manter peixes sempre perto de mim,junto com todos os meus contos cantados
o céu está sim, mais azul!
o mar está sim, mais azul!
e eu conto, conto de isso tudo,em todo canto, porque dos poucos vícios que faço questão, só me resta um:
o de ser azul.
...

Sunday, April 08, 2007

Maresia de Veraneio de Páscoa

maresia na varanda, Era misturada com grama grudada na perna
vento pra despentear, olho vermelho de sono temprano
perna molhada, corpo úmido e rosto seco,
e as velas dobradas das jangadas, o Sol estuporante
a areia cheia de conchas, latas e palhoças
casa dos quartos, da falta de brisa
do jogos de baralho um tanto retardados e das conversas de fumaça
das refeiçoes improvisadas e da mais amável companhia
tenho portanto boas lembranças
de todos os búzios que procuramos pelo mar
até eu encontrar um búzio bem simpático, e entregar pro Anjo
quem me dera ser um vagabundo
pra viver bem 'guardado' nesse porto sem beira de cais.