Friday, November 21, 2008

como uma estrela cadente




como se perdem as palavras?
por não escolher as certas e limpar a garganta
despejar a culpa na desculpa, e não encontrar mais uma referência...

se perdeu o olhar numa órbita diferente
cheia de rancor, cheia de certezas
e ficou muito lógico, a razão da dor
ficou muito úmido,tudo muito úmido...

fecharam-se portas e janelas
o céu padeceu de tristeza
e vieram as outras nuvens, tão cinzas quanto as primeiras
e cobriram tudo que valia a pena

veio a chuva pra molhar minhas bochechas, minha boca
até eu ressecar e definhar no pesado sofrimento
ficar com frio, pálido e humilhado

toda a chuva veio no peso do ar, embalada no amor
ainda presente, latente, e extremamente doente
que arrancou minhas vísceras, anputou minha coragem
trouxe agora uma raiva pertinente
por não me sentir pleno, em tempos áureos

assim fiquei sem minhas palavras,
todas inúteis, todas retardatárias
que se prestaram apenas pra tornar memorável o que me machuca
que me enlouquece e me transtorna
fiquei sem minhas pernas, no chão, sem querer levantar

me deixou cinza, rouco e vazio
oco
de casca frágil, que vai arrebentar,
quando vier a visão do que já não me pertence
ou quando for ver as ondas do mar...

estou completamente triste,
pequeno e sem forças pra cantar
sem gana pra dançar
sem minhas asas pra voar

fica sempre o meu amor
o maior amor de todos, que não se finda
nem na passagem de uma estrela cadente

tive a certeza de eternidade, na queda de uma estrela como essa...
e as palavras foram embora, todas elas perdidas
tristes e cinzas


.

Monday, November 17, 2008

deixa de ser novo, passa a ser essencial



e então vieram as respostas:
como um clarão de paz que rodopiou até chegar no meu quarto, e usar um chapéu colorido;
veio como se eu o chamasse, trouxe as chaves e os sorrisos
todos os sorrisos, que eu sempre quis receber
todos os risos, que tenham sido guardados

De uma vez, na frente de todos, trouxe também o conforto
ele todo muito coerente,
articulado, verdadeiro e sentimental
todo completo, mostrando o tudo como tem que ser...

Me falou das canções que ainda vamos escutar
das mentiras que ouvimos falar
e de todos os abraços que ainda vamos compartilhar

uma irmandade fraterna, que já clamou por cuidado
por assegurar ser eterna
imperecível e de identidade própria

é de verdade. e está acontecendo
como nunca sonharia alcançar
alguém que me desse a mão e me mostrasse o coração
cheio de sorrisos, sorvetes
e de todas as conversas que ultrapassam a meia noite

aquele que viu clariar o dia
cativou minha alegria
e me fez sortudo, por poder chamar de amigo




Saturday, November 15, 2008

a semente do pôr-do-sol

eu vim depressa, com pressa de viver
e na correria desenfreiada
deixei cair minhas roupas, meus sonhos
uma semente:

atravessando o céu, os sentidos e as pessoas
deixando o tempo noturno pra depois
cruzando as ruas, as palafitas e o concreto
passando pelos dias, pelas tardes de calor
pelas noites de amor e pelas canções de dor
ignorando os olhos, levantando os pesos
os segredos, as contradições
sentindo as variações de temperatura
a amargura e o descontento...


floresceu!
o fruto que caiu do pomar, veio parar nos meus pés
sujo, maduro e extremamente doce;

no meio da folhagem seca,sai do balanço de madeira e me abaixei
me rendi aquela visão prometida de felicidade
catei o fruto cor de carmim do chão e mordi satisfeito...

me faltava apenas aquele paladar, o que eu tinha plantado quando criança
e foi a melhor sensação do mundo;
depois de tanta estrada coberta de areia
e de tantas folhas cobrindo meu quintal
saber que me faltava apenas provar do açucar vermelho e pulsante...
de toda forma, me conforta a visão:
eu já tinha a estrela mais brilhante dentro dos meus braços
o maior coração do mundo nas mãos
o sorriso mais inesquecível no peito
uma concha do mar como tatuagem no pulso
e uma coletânia de canções de amor,todas, cantadas por sereias


demorei pra perceber, que quando voltei ao meu balanço de madeira
tudo isso atravessou o céu, os sentidos e as pessoas
e ficou para sempre