Thursday, March 26, 2009

desconfio e desconheço



eu não sei que horas eu acordei.


não vi sinal de luz qualquer. Passei de um sonho nebuloso a outro cheio de imagens tortas e recortadas. Foi quando notei meu corpo ainda febril, suando os lençois que eu também não fazia idéia em que parte da cama estavam. Eu sabia que estava na minha cama, pelo simples motivo de que naquela noite, dei falta de um dos meus travisseiros, talvez estivesse no chão, não sei. Desconheço até que ponto eu voltei a dormir, e se de fato, tinha acordado com febre. Não, eu não estava dormindo coisa alguma, eu estava num circo! Uma lona cheia de estrelas coloridas, muito alta, cobria todo o céu daquela manhã. Não podia ser um dia melhor; eu sentado com todos meus amigos, todos eles, cantando e dançando, esperando o grande espetáculo começar. Fogos de artíficio foram disparados de dentro da lona. Uma fumaça brilhante encheu todo o circo com várias cores que centilhavam pelo picadeiro. Os espectádores estavam extasiados, como se em transe, gritassem de alegria e contemplação. Todos aqueles animais fantásticos que podiam falar, os malabaristas que brincavam com fogo, todos aqueles mágicos de bigodes compridos e palhaços com narizes engraçados, que insistiam em me fazer medo...
Meu nariz começou a coçar, estava suando de novo, revirando na cama que agora não tinha mais lençol algum. Minha garganta estava ardendo, arranhando, como se tivesse gritado durante horas. Minhas mãos estavam dormentes e eu não fazia idéia do porque. Eu estava completamente desconfortável.
Senti uma sensação agradável, tão libertadora que quis abrir os braços. Foi por pouco que não caí do cavalo voador que me levava pro alto, e cada vez mais alto, rumo a um destino que eu também não imaginava qual fosse. Deveria ser um lugar bom, com toda certeza, deveria. Quais as chances de ser um destino ruim? De toda forma, a viagem já estava valendo a pena: eu conseguia sentir o sabor das nuvens pelas quais o cavalo galopava. Sentia a liberdade encher meu peito a cada batida de asa do meu cavalo. Eu devia conhecé-lo a muito tempo, tinha quase certeza que sim. E no meio de uma viagem que pareceu levar dias, no infinito das nuvens, eu pude ver até onde chegava o horizonte.Não tinha medo, queria voar pra mais longe, levar só o meu amor comigo. O sol estava tão quente, tão perto...
Estava ardendo em febre, me contorcendo no colchão. Eu tremia como se meu corpo não respondesse por si. Foi quando escutei a voz da minha irmã no quarto ao lado: estava em casa, provavelmente sonhando, mas não sabia, queria apenas saber quanto tempo faltava para amanhecer. E tossindo com muita força, eu senti como se meu coração fosse sair do peito.
Na verdade, eu estava segurando meu coração nas mãos, literalmente. Sentado na areia de uma praia qualquer,eu vi o que me pareceu um héroi de desenho animado,de cabelos bagunçados, vestindo cores fortes, sentar ao meu lado e ficar o que me pareceram horas conversando, declarando sua fidelidade e companherismo. Meu coração,que tinha ido ao mar, não voltou para minhas mãos, mas ficou dentro do mar durante um bom tempo. Eu fiquei muito aflito, até escutar o héroi me contar em segredo:que meu coração já estava nas mãos dele, e que para sempre, ou até que o mar secasse, meu coração estaria no lugar certo. Me confortei e entendi, muito tranquilamente, que estaria protegido, desde já, de todo mal que viesse me ferir. Daí senti a areia nos pés, me coçando e irritando minhas pernas. O sol estava brilhando forte demais,eu não conseguia abrir os olhos.
Meus olhos costuvam a abrir, a preguiça e a dor de cabeça imperavam sobre meu corpo. A cama já estava devidamente bagunçada, eu começava a reclamar das dores musculares, balbuciava qualquer gemido, qualquer reclamação...
Eu vi os bonecos que amontuavam meu quarto sairem voando todos de uma vez, e me revirando outra vez, senti todo o meu amor se esvaindo de mim. Senti a dor, a mais cruel que possa existir, passar pela minha cabeça e sair gargalhando, sentando no meu lado na cama. Passei a ver mais cores, cada vez mais rápido, palhaços entraram cantando no meu quarto, eu gritava um nome só repetidamente e nada acontecia, um turbilhão de fumaça saía pelos ouvidos, muito barulho, muita gente, muita neura e num susto, eu caí da cama.
Eu não sei que horas eram, ou quanto tempo fazia que tinha ido dormir. Não me dei ao trabalho; apenas recolhi os lençois do chão e tentei igonrar minha febre, que na melhor das hipóteses, não me fazia mais tanto mal.

Eu não sei de fato, o quanto de delírio eu posso sentir, o quanto de alucinações que posso carrregar, o tanto de sonhos que eu posso sentir, ou o tanto de sentimentos que eu posso sonhar. Eu só gostaria de saber, que horas eu vou acordar amanhã de manhã.


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