Saturday, December 20, 2008

Aperto



E quando eu me sentei para balançar minhas pernas e as idéias sofridas
Bateram na minha soleira de veraneio.

Entraram os ventos vindos do sul, quentes e ligeiros
Vagaram pela casa, pelas cortinas, sorrateiros
Esquentaram a prataria, os vidros e as chaleiras
Vieram os faunos e as borboletas
Esquilos que pulavam nos livros em cima da mesa
Folhas do jardim que já estavam secas
Encheram minha casa de vida
Passaram pela cristaleira os raios do verão
Encontraram os corações e o velho castiçal
Todos de cristal

Com o vento veio o desconcerto
Mãos que o corpo tateiam
As mesmas que desejam e anseiam
Roçaram e se entregaram a paixão
Que passou por ambos pares de mãos
Até se consumir na tapeçaria
Onde encontrou o chão, duro e frio
Corpo já suado,
Confessando e trabalhando seus pecados
Consumidos também no assoalho
Que cobre toda minnha casa de madeira

A porta que ficou aberta deixou entrar a emoção
Desfaleceu a alma, contraiu minha visão
Revirou a cabeça e junto com a mobília
Que não encontrou mais lugar nenhum dentro da sala
Na mente viajaram as boas lembranças
Agora lotadas pelas passagens do outuno

Deixei entrar as traças e a poeira
De âmago ferido e dormente
Sol demais, mormaço e cegueira
Calor insuportável, lábio seco e carente
Claro demais e espalhado por todo canto
Um tanto de água da torneira aberta
que agora divide espaço com o tudo que veio de fora

Depois da invasão, percebi o amor próprio deitado
Ao meu lado, cruzando minhas pernas e amarrando meu coração
Veio a inveja, a amargura e a tristeza
De mãos dadas e amarradas
Sentaram a decepção e a incerteza
Deu pra ouvir a risada da alegria de contemplação
E tomei cuidado pra não ser tragado pela minha vertigem
Que teima e insiste em destruir minha poesia
quando a casa está abarrotada de simbolismo

Eu tentei fechar a porta da soleira
Mas meu corpo franzino não me ofereceu força
Dormi de porta aberta e coração na mão
Corpo ainda suado,excitado
Exercitado em trocas de carinho mútuo
Com um estranho adorável que também encontrou o meu sobrado



Dormi com a cabeça e as paredes reclamando
Minha casa lotada sem nem espedir convite
E as únicas que ficaram do lado de fora foram as minhas palavras
junto com a minha poesia
Que se alimentou de tudo que podia morar dentro da minha alma quando acordou no outro dia.

1 comentários:

Ícaro Sammpaio said...

sem comentários.