Thursday, April 26, 2007

Maria

"Maria anda um pouco cansada. Havia andado toda aquela tarde pela praia,seus pés doendo, inchados,os olhos pesados e de boca seca. Maria senta, espera a noite sozinha. Está olhando para as estrelas, suja, deitada na areia esperando o mar lhe levar. O vestido de Maria está rasgado, seu cabelo crespo molhado, Maria está muito magra e sonolenta. Passa a mão sobre o rosto e sente escorrer, sente acidez. Maria morde a boca pra não sentir dor nem angústia. A bela se levanta, ascende uma fogueira no meio da praia, e espera o sol de outro dia nascer, inutilmente. O fogo não esquenta Maria, que entra num choro sozinha. Maria grita, não quer mais esperar, não quer nem fugir, não quer permanecer. Engole o choro, vai afogar as mágoas pra não sentir, pra anestesiar os sentidos, e pra quem sabe, descansar os pés machucados. Amarra os cabelos, deixa de roer as unhas e morder a boca, escreve na areia o que quis. Torcendo os pulsos, arrastando as pernas. Pensa rápido sobre tudo, na família, na mãe. Maria pensa nos amigos, na falta do passado, no cheiro da sua casa, na sua casa. Pensa no horizonte, e por fim, desiste de pensar. Maria entra no mar, a frescura da água é boa pra seus pés, que deixam de reclamar a dor. Ela sente o pesar, sente afundar. Ela sabe, que no final, sempre alguém deve morrer Por lá ficou, até deixar de existir. A Maria ficou com o mar, em forma de dor, e pra sempre. Foi embora, ficou a dor, pra sempre" ...

0 comentários: