Sunday, April 27, 2008

diminutivo

O sol foi embora. Bem perto da janela a menina alvina se escorou.Fitando o horizonte com os olhinhos pequenos (abertados),cantarolando e se espriguiçando pra sentir a pontinha dos dedos, até sentir a cabecinha coçar. Do parapeito, correu pra cama. Desfez o laço e os nós do cabelo trançado, amarrado, todo bem cuidado.
Tomou pelo braços um diário fino,de capa toda florida e riscada de caneta vermelha. Ocorreu a menina um choro fino, agudo, cheio de soluços para o seu corpinho frágil.

A última página estava em branco, pronta pra ser redigida. E lá se foi a menina pequena, de pernas pro ar, envolta nos lençois e nas fronhas, escrever simplesmente sobre o seu dia:

"O que permanece: o frio tão bem entendido
da vírgilia imaculada
alterada pelos prazeres menores
de egos mimados, gordos
maiores
espera paciente, auto-suficiente
anestesia que me passa, relaxa
euforia
nas formas mais sublimes do toque

Na mão, no corpo, na face
em tudo que tateia
em tudo que escreve
em tudo que sente

Transborda
tudo que me atormenta"

Dormiu a menininha, suando e batendo os pés.
Está agorinha mesmo, a coitada, no seu quarto enfeitado de borboletas e mariposas, virando o corpo em tempos, pra sonhar melhor e mais confortável...

Vai acordar pra escrever coisas bonitinhas, coisinhas de quem se lamenta
de quem ama
de quem dorme com menos travesseiros do lado direito da cama



Desse ser daqui a pouco,
o sol já nasceu.



3 comentários:

Anonymous said...

Lindo texto. *-*~

intensa presença do puro e frágil.

Lari :) said...
This comment has been removed by the author.
Carol Freitas said...

coisa linda, essa menina que sofre.
a beleza do triste é gritante, intensa e verdadeira; por mais triste que seja.