Sunday, August 24, 2008

o aluguel

E agora eu me encontro aqui. Me descobri dentro de um apartamento de largas proporções, construção recente. Estou sentado sobre o piso todo coberto de flores do campo,tapete de grama crescendo até os pés. As paredes do apartamento são altas, olhando pra cima não se sabe até onde vão. As paredes são cobertas com fotos e memórias novas, renovadas, cheias de sentimentalismo. Essas mesmas paredes que arranham o céu me protegem do frio, da neve imaginária... Me trazem certezas concretas de proteção.

Me levanto pra vislumbrar o que me parece extremamente relevante. As fotografias que decoram as paredes altas e coloridas, as imagens que se movem, reveladas outro dia, os retratos tropeados de alegria e ansiedade, todos, perturbam a quietude e me indagam a refletir sobre os esquadros e a rotina que me acompanha desde que pisei dentro do apartamento:

O que dizer sobre a dança?
O que me trouxe e me faz ficar
Que me estimula e me aguça
Me faz gritar, espernear
Me olhar no espelho
Chorar
E ter a certeza que meus pés estão no lugar

O que falar sobre a sinceridade?
Que eu tanto busco e persigo
As gargalhadas sinceras, a confissão que é guardada
Os predicados mais valiosos, pra quem eu tanto quero bem
E que vale uma segunda olhada
Uma descoberta
Inteligência
Vale todos os carinhos, por saber que os terei de volta
E quando recrutar ajuda, saber que o retorno é garantido.

O que dizer sobra uma maternidade escolhida
Ou uma paternidade sem idade?
O que dizer de quem a gente escolhe pra ser nosso amigo
Da sorte de poder pular bem alto
De brincar de ser feliz
E não levar castigo
Ter a certeza que os amigos que escolhemos pra chamar de família
Foram muito bem selecionados

O que dizer sobre um sonho
Que une e reúne a cada segundo
Que transmuta, renasce
De garra e fé, dá a face pra bater
O sangue
Rebate
E acredita que tudo pela arte vale
O sonho que uniu os sonhadores
E não os deixa morrer

O que poderia falar sobre proteção?
O melhor conselho, o melhor cuidado.
Que de tudo se preocupa, e está sempre por perto.
E que por ser extremamente eficaz,
Cativou o que eu chamo de coração
Já resguardo dentro dele, simplesmente pro me fazer feliz
O menino dos olhos
O menino que voa longe com suas asas de cera.

O que expressar pela luxúria inocente
Que geme e sossega os afoitos
Me toma nos braços
Viram laços que não me deixam cair
Eleva o espírito, ego, ânimo
Por ser sincero e presente.

Como medir uma admiração
Uma porta pra identificação
Vindo tão de perto, conquistando espaço e revelando
Que desbravadores e guerreiros também são lindos
Pessoas incríveis
Exemplos, particulares
Ousaria invejável, por ser tão certeiro
E tão cúmplice, quando eu mais requisito.
O que ditar sobre uma amizade
Que de tão verdadeira parece absurda, encantada
Sorrisos bobos e compartilhados
Demorados
Vividos de mão dada
Rosto colado e celebrações gratuitas de alegria
Por ser tão bonita, por ser tão simples
Tão pura
Por ser tão certo quanto o sol
Carinhos na alma,
Pra quem eu faço questão de conviver

Como declarar o amor?
O mais sincero amor, que não se contrasta,
Que não se molda
Cresce até os limites possíveis, entra pelos sonhos
Perdura e modula todas as conversas
As confissões de eternidade
As mais certas quem sabe
O amor do mar, do presente, da completude e união
Amor e coração juntos, imperecíveis.

O que gritar sobre o companheirismo
O maior de todos, o melhor de todos
Uma única verdade, de se amar profundamente
Uma única certeza, de se viver uma profusão
Uma overdose de tudo que nos faça bem
Onde eu quero estar, quero ficar
Perpétuo, até o último carinho, o último beijo
Que nunca irá chegar
A vontade gigante que nos impede, nos mantém


Depois de passar as mãos, de sentir o calor das fotos, sentir tudo que tinha pra sentir, voltei para a grama daquele nosso jardim privado, recolhi as flores mais bonitas, plantei outras sementes para que nasçam os frutos maduros e deliciosamente memoráveis. Demorei a colar as últimas fotos que ainda estavam no chão...


Agora sentado, o pensamento que clareia a mente veio de uma forma tão precisa e racional, que a conclusão pulou pelas paredes até se fazer imediata...

Não tenho muito que falar, o que dizer, o que declarar ou gritar. O que eu posso, e o eu quero é cantar. Cantar para que o mundo inteiro escute as nossas canções de amor, das histórias lindas que forjamos em notas musicais, e de tudo que vivemos, que vimos e sentimos.


Cantar e afirmar, que alugamos este apartamento em tempos de glória, que este é o nosso lugar, que eu vivo meu hoje por vocês, pra lhes proteger e distribuir milhões de beijos e abraços.


Cantar que existe sim um amanhã. Virá um amanhã com mais fotos pra colarmos nas paredes, um amanhã que faremos durar daqui até uma eternidade, um amanhã mensurado conforme nossas lembranças, conforme nossas estações, que são todas datadas em amor

Aluguemos nossos corações meus amigos, cantemos todas as nossas canções, pra vivermos nossa vida boêmia e nossas estações de amor.



1 comentários:

J. Lira said...

Esse texto ainda vai me fazer chorar tanto. Além disso, vai me fazer amar, confirmar meus sentimentos e a minha causa, me fazer ter mais um bom motivo pra continuar vivendo intensamente.